“Zaqueu, desça depressa, porque, hoje, me convém pousar em sua casa.” (Lucas 19:5)
Como já disse em outros artigos, Jesus sempre estava em movimento. O que não significa, porém, que ele vivia numa correria desenfreada. Ao contrário, tudo era feito com planejamento e sabedoria, com o propósito de alcançar com a mensagem do evangelho, ou seja, com as boas-novas de salvação a maior quantidade de pessoas possível.
Em uma dessas ocasiões, o Mestre havia decidido ir a Jericó. Estando já perto dessa cidade, um cego chamado Bartimeu soube que era ele quem passava por ali e clamou com insistência por misericórdia, sendo atendido prontamente pelo Senhor, que o curou de sua cegueira – Lucas 18:35 ao 43.
A seguir, vemos Cristo entrando em Jericó. E, tendo entrado na cidade, ia passando. Havia ali, um homem chamado Zaqueu, o qual era cobrador de impostos, que queria vê-lo. No entanto, como era de pequena estatura, correu e subiu numa figueira brava, pois a multidão o impediria de ver o Senhor – Lucas 19:1 ao 5.
Naquele tempo, os cobradores de impostos, também chamados de publicanos, eram detestados pelos judeus, porque frequentemente se envolviam com corrupção e cobravam mais do que deviam. Além disso, muitos deles eram judeus; por isso, o povo os considerava como traidores da pátria. Desse modo, não se “encaixavam” nem entre seus compatriotas nem entre os romanos.
Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e disse para Zaqueu descer depressa. A partir desse momento, a vida desse homem começaria a seguir um novo rumo. Apesar de a Bíblia não registrar por que ele desejava ver o Mestre, podemos formular algumas hipóteses, considerando todo o contexto no qual esse fato ocorre.
Uma delas é que ele já ouvira falar dos grandiosos feitos do Senhor. Em Mateus 9:31, lemos que a fama dele foi divulgada por toda aquela terra. Portanto, é possível ou provável que, enquanto fazia suas cobranças, Zaqueu tenha escutado o relato das maravilhas operadas por Jesus, despertando nele algo que move o mundo há muito tempo: a curiosidade de ver de perto aquele homem.
Outra suposição é que esse homem, mesmo tendo uma ótima condição financeira, resultante de seu ofício, sentia-se com um grande vazio interior, não tinha paz de espírito, vivia tomado pela solidão e não enxergava nenhum sentido para sua vida. Assim, ao escutar as histórias dos milagres, brotaram em seu coração uma fagulha de fé e uma grande esperança de que tudo podia ser diferente.
Assim, quando o Mestre lhe dirigiu a palavra, desceu rapidamente e o recebeu com júbilo, ou melhor, com uma alegria extrema – Lucas 19:6. A Edição Revista e Corrigida diz que ele recebeu Jesus gostoso. Prefiro essa tradução, porque transmite a ideia de que Zaqueu teve um enorme prazer em receber o Senhor.
Mas, como sempre, a turma do bocão logo se apresentou e começou a criticar Cristo, dizendo que ele iria ser hóspede de um homem pecador. Contudo, Jesus sabia muito bem quem era e o que viera fazer. Por esse motivo, não deu nenhum crédito para tais murmuradores. Antes, dedicou total atenção a Zaqueu.
Nesse ponto, preciso dizer-lhe algumas coisas importantes. Muitas vezes, quando estamos fazendo o que a grande maioria faz, mesmo que estejamos errados, não recebemos críticas (às vezes, somos aplaudidos de pé). Entretanto, se decidirmos fazer o que é certo, ou seja, seguir as instruções do Senhor, logo se levanta a turma do bocão para apontar o dedo, chamar de caretas, de fanáticos e de outros adjetivos depreciativos. Todavia, como disse o apóstolo Pedro e os demais apóstolos, em certa ocasião na qual estavam sendo julgados injustamente: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” – Atos 5:29.
Não posso deixar de mencionar que nesse ponto a presença de Jesus já havia tocado profundamente a vida desse homem. Desse modo, mesmo que o Senhor não lhe fizera nenhuma acusação ou cobrança, ele se levantou e disse: “Olha, Senhor! Estou dando a metade dos meus bens aos pobres; e se de alguém extorqui alguma coisa, devolverei quatro vezes mais” – Lucas 19:8.
É bom destacar que em nenhum momento a Bíblia diz que Zaqueu era ladrão ou corrupto. Embora muitos cobradores de impostos fossem, não se pode afirmar que ele era. No entanto, a presença do Senhor certamente o fez se reconhecer como pecador e despertou nele a sede de fazer o que era certo. Inclusive caíram por terra seu egoísmo e sua ganância, os quais deram passagem para a entrada do altruísmo (amor desinteressado ao próximo) e da generosidade também, conforme lemos no versículo 8.
É sempre assim. Quando temos um encontro pessoal com o Senhor, caem as escamas que provocam cegueira e nossa visão espiritual é ampliada. Logo, brota em nosso coração a consciência de que somos falhos e o desejo de fazer o que é correto. Por certo, foi por isso que o apóstolo Paulo declarou em II Coríntios 5:17: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”.
Na sequência, vemos o Mestre fazer a seguinte declaração: “Hoje, veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” – Lucas 19:9 e 10. Ao dizer isso, Cristo está reconhecendo que Zaqueu foi sincero em suas declarações. Afinal, ele conhecia muito bem o que se passava no coração e na mente das pessoas com quem ele dialogava.
Por outro lado, os fariseus e outras pessoas presentes naquela ocasião só tinham pedras para jogar em Zaqueu, pois conseguiam ver apenas o exterior, baseados em seus próprios conceitos ou preconceitos. Hoje também somos assim. Por isso, quando alguém que levava uma vida totalmente fora daquilo que é correto decide mudar de vida, nós nos juntamos à turma do bocão e ao grupo dos atiradores de pedras. E nos esquecemos de que a salvação também pode chegar à casa dessa pessoa, porque ela também foi criada à imagem e semelhança de Deus.
Outra coisa de que não nos lembramos é que “Jesus veio buscar e salvar o que se havia perdido”. Ele não veio para aqueles que se consideram bonzinhos ou santinhos de acordo com seus próprios conceitos e critérios. Antes, veio para os que estavam ou estão fora da curva e que se reconhecem carentes da graça e do perdão de Deus.
Em Lucas 5:31 e 32, vemos o Senhor falando: “Não necessitam de médico os que estão sãos, mas sim os que estão enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores, ao arrependimento”. Se olharmos o versículo anterior, veremos os fariseus (e sempre há fariseus em nosso meio) murmurando contra Jesus porque estava no meio dos publicanos. Evidentemente, não era para fazer o que eles faziam de errado, mas para anunciar-lhes as boas-novas de salvação. Portanto, precisamos estar atentos a isso, para não cairmos no mesmo erro dos fariseus da época de Cristo.
Se parasse por aqui, já estaria bom. Entretanto, existem mais algumas coisas importantes que preciso mencionar nesse artigo. Afinal, o título está ligado a elas: “Ver ou conhecer Jesus? Eis a questão!” – Uma paráfrase do que disse William Shakespeare, poeta, ator e dramaturgo inglês: “Ser ou não ser: eis a questão”.
Jesus sempre tem muito mais a nos oferecer do que imaginamos. Parece-me que Zaqueu se contentaria com o fato de apenas ver o Senhor. Porém, o Mestre tinha e queria lhe oferecer muito mais: um relacionamento pessoal, transformação de vida e salvação da sua alma. Portanto, vê-lo seria somente o primeiro passo. Como também o é ouvir e ler histórias a respeito dele. É muito mais do que assistir a filmes, a peças de teatro ou a pregações sobre ele. Por essa razão, não podemos e não devemos nos contentar com essa visão sobre o Senhor.
Caso eu lhe perguntasse: “Você já viu a rainha da Inglaterra?” Acredito que me diria que sim. Talvez numa foto ou na televisão. E se o interrogasse: “Você conhece a rainha da Inglaterra?” Quase o ouço dizer que não. Por quê? Como diz o ditado popular: “Se quiser conhecer alguém, coma um quilo de sal com ele”. Muito verdadeiro, por sinal.
Ora, para comer um quilo de sal leva um bom tempo. É preciso ir pouco a pouco; caso contrário, faz mal à saúde. A construção de um relacionamento também demanda tempo e conhecimento. Com o Senhor não é diferente. Necessita investir tempo no relacionamento com ele. Como? Lendo sua palavra. Falando com ele em oração. Dizendo-lhe que gostaria de ter uma experiência pessoal com ele. Meditando sobre seus ensinamentos. Abandonando conceitos, atitudes, comportamentos e práticas contrários aos ensinamentos dele.
Além do que foi dito, ainda preciso fazer-lhe mais um questionamento: “Você ama a rainha da Inglaterra?” Penso que dirá que não. E eu concordo. Para amar de fato alguém, é necessário conviver com essa pessoa e se relacionar com ela. Da mesma maneira, acontece com o Senhor. Caso queiramos saber se o amamos mesmo ou se quisermos amá-lo com inteireza de coração, segundo ensinam as Escrituras, precisamos estreitar e aprofundar esse relacionamento. Do contrário, sempre haverá um grande distanciamento. Assim, o amor e a fé vão se apagando como uma lamparina cujo óleo chegou ao fim.
Foi por essa razão que Jesus veio ao mundo: mostrar que é possível e necessário conhecê-lo e manter uma relação de amor com ele. Mas como? Ele voltou para o céu faz muito tempo. Verdade. Porém, o Senhor mesmo declarou a Tomé, que tinha duvidado da ressurreição dele: “Você crê porque me viu. Felizes são aqueles que creem sem ver” – João 20:29.
Além disso, o Mestre disse o seguinte: “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos. E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês. Não os deixarei órfãos; voltarei para vocês” – João 14:15 ao 18.
Há um texto, muito interessante por sinal, chamado “Eu não o conheci”, cujo autor é Oswaldo França. Nele, o pai diz o seguinte sobre seu filho: “Acostumei-me com ele em casa e me esqueci de conhecê-lo. Agora que sua ausência me pesa é que vejo como era necessário tê-lo conhecido”. Se num relacionamento entre pai e filho terrenos isso já é bem triste, em relação ao Senhor é muito mais. Então, não podemos simplesmente nos acostumar com coisas que falam do Senhor, mas almejar conhecê-lo de fato e de verdade.
Sendo assim, quero finalizar encorajando você a querer mais do que ver Jesus, seja através de um filme, de uma peça de teatro, de uma pintura, das pregações, das histórias bíblicas ou de quaisquer outras formas. Isso é bom, porém não o suficiente. Incentivo você a conhecer Jesus, ou seja, a ter uma experiência pessoal com ele, pois é o que o Senhor anseia e foi para isso que ele veio ao mundo. Também tenho que registrar que não importa quem você foi ou é nesse momento, mas quem deseja ser em Cristo, porque ele declara: “O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” – João 6:37.
Para ouvir: Encontrei o meu lugar – Renascer Praise