“… mas há um amigo mais chegado do que um irmão.” (Provérbios 18:24)
Segundo a Psicologia, amizade é um dos vínculos mais significativos e importantes que estabelecemos. Isso porque estar com amigos é uma forma privilegiada de socializar, e a socialização, tal como o psicólogo bielo-russo Vygotsky afirma, “é a base do desenvolvimento humano”. Sem a socialização, não desenvolveríamos processos cognitivos superiores (cognitivo: relativo à aprendizagem) nem nos apropriaríamos devidamente da cultura.
Não ter amigos pode ser tão perigoso para a saúde como fumar ou consumir álcool em excesso, diz um estudo de cientistas americanos na revista Plos Medicine. Os especialistas afirmam que viver isolado é prejudicial à saúde. Fato que é potencializado quando vivemos em tempos de relações superficiais, descartáveis e imediatistas baseadas em redes sociais.
Ainda nessa linha de pensamento, o estudo mostra que no processo psicoterapêutico, a amizade pode ser compreendida como fator de proteção. É a rede de afeto no enfrentamento dos dissabores da vida. É a força que sustenta ao cair, ou mesmo a mão estendida ao levantar.
Quando nós nos voltamos para as Escrituras Sagradas, vemos que o que a Ciência diz não é nenhuma novidade. No entanto, é muito bom saber que Ciência e Fé se encontram e andam de mãos dadas com um único propósito: abençoar nossa vida. Basta se lembrar, por exemplo, da amizade de Davi e Jônatas (filho do rei Saul) e o quanto ela foi benéfica para os dois, para Mefibosete (filho de Jônatas) e, finalmente, para todo o povo de Israel.
Entretanto, o foco desse artigo não é a história deles e, sim, a da família de Lázaro. Portanto, para começo de conversa, é bom recordar que a Bíblia registra três episódios envolvendo Marta, Maria e Lázaro. O primeiro deles está em Lucas 10:38 ao 42. O segundo, em João 11. O último, em João 12.
Antes de dar sequência, quero lhe fazer a seguinte pergunta: Por que, por três vezes, Jesus foi à casa deles? Antes que você responda, quero fazer uma provocação, colocando outro questionamento: Por que você iria à casa de alguém e voltaria lá outras vezes?
Quase ouço sua voz dizendo: “Volto lá porque me sinto bem recebido. As pessoas são agradáveis. A conversa é boa. Sinto paz naquele ambiente. Percebo que as pessoas realmente gostam de mim”. Além dessas possíveis respostas, outras semelhantes a elas poderiam ser dadas. Então, agora podemos mergulhar um pouco na história desses irmãos e de Jesus.
Como já vimos, o primeiro momento dessa família com Jesus está registrado em Lucas 10:38 ao 42. Nele, lemos que Jesus fora recebido naquela casa por Marta. Enquanto ela estava distraída com os serviços domésticos, Maria sentou-se aos pés do Mestre para ouvir seus ensinamentos. Muito provavelmente, Lázaro, como o homem da casa, já estava fazendo sala para tão importante visita.
Em dado momento, Marta disse: “Senhor, não te preocupas que minha irmã me deixe servir sozinha? Diga a ela que me ajude” – V 40. Essa fala foi a oportunidade que Jesus precisava para ensinar uma grande lição. Assim, aproveitando-a, falou-lhe: “Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada” – Lucas 10: 41 e 42.
Talvez você seja tentado a jogar algumas pedrinhas em Marta, não é mesmo? Mas quero dizer-lhe uma coisinha: Toda dona de casa que se preza sempre quer dar o melhor para seus hóspedes. Logo, em se tratando do ponto de vista humano, ela estava certa. Todavia, Jesus almejava mostrar para ela que as coisas terrenas não são as mais importantes da vida.
Penso também que o Senhor queria que todos os presentes naquela casa aproveitassem ao máximo o tempo com ele, pois o Mestre não ficaria para sempre entre eles. Em outras palavras: serviços terrenos sempre teriam para fazer, principalmente os domésticos. No entanto, a presença física do Messias seria por um curto tempo. O mesmo se aplica a nós hoje. Por isso, é importante e necessário questionarmos se temos tirado tempo para sentar aos pés do Mestre para ouvir o que ele tem a nos dizer.
O segundo encontro de Cristo com essa família está narrado em João 11:1 ao 46. Nele, está narrada uma história com três momentos distintos: esperança → tristeza → grande alegria. O primeiro sentimento se manifesta quando lemos que Lázaro adoecera e suas irmãs mandaram avisar Jesus, dizendo: “Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas” – 11:3.
Certamente os três irmãos amavam a Jesus e, pelas atitudes do Senhor, eles sabiam que também eram amados – 11:5. Além do mais, não há dúvida de que já haviam ouvido a respeito dos milagres que o Senhor fizera e presenciado tantos outros. Sem contar que, se eram amigos de alguém tão poderoso, certamente poderiam contar com sua ajuda. Desse modo, tudo isso alimentou uma viva esperança no coração deles.
No entanto, a princípio, as coisas não saíram como eles gostariam. O versículo seis nos informa que depois de receber a notícia o Mestre ainda ficou mais dois dias onde estava. Apesar de Jesus estar tão perto de Betânia (a menos de 10km), ele toma uma decisão um tanto estranha aos nossos olhos. Ora, se estava bem perto e se amava Lázaro, por que não ir correndo imediatamente para a casa do amigo?
Não podemos esquecer que no versículo quatro o Senhor faz uma declaração reveladora: “Esta enfermidade não é para morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”. Isso quer dizer que o Senhor já possuía um objetivo, um plano e um tempo para executá-los. E seus planos são perfeitos, ainda que muitas vezes não os entendamos de imediato, ou nunca.
Antes de prosseguir, gostaria de intimar você a pensar umas coisinhas comigo: Que sentimentos e pensamentos povoaram o coração e a mente deles, em especial de Lázaro? Afinal, ele era o mais interessado nessa situação. E mais: O que as pessoas maldosas diziam a eles sobre a demora?
Talvez, os invejosos e os incrédulos dissessem: “Vocês não se acham os queridinhos dele? Se ele de fato fosse amigo de vocês ou os amasse, já não teria chegado? Quem sabe Jesus só se aproveitou da ingenuidade de vocês, comendo e bebendo de graça em sua casa. Na verdade, ele não se importa com vocês”.
Já vi diversos casos nos quais servos de Deus também foram questionados assim. Diziam as pessoas: “Onde está o seu Deus? De que adianta ir à igreja? Veja como você está doente. Olha quantos problemas você tem. Eu nem vou à igreja e a minha vida é melhor do que a sua”. Quem sabe você mesmo já viveu ou está vivendo algo parecido. E vou além: Talvez você mesmo tem (se) questionado se vale a pena servir a Deus ou se ele de fato o ama.
Mas isso não é “privilégio” seu. É coisa antiga. O escritor do salmo 42 viveu algo assim. Veja o que ele diz no versículo 3: “As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, enquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?”. Porém, a situação muda e, no versículo 11, ele declara: “Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e o meu Deus”.
O segundo sentimento que invadiu o coração daquela família foi a tristeza. A demora do Mestre em atendê-los resultou na morte de Lázaro. Agora, aquelas irmãs que, pelo que se percebe, já não tinham os pais, perderam seu irmão querido, o qual lhes dava o direito a uma vida digna e respeitável. Por certo, era o protetor delas.
Somente quem já passou por uma perda dessa natureza sabe o quanto é terrível. Talvez, você também tenha vivido alguma experiência semelhante. Por isso, entende muito bem do que estou falando. Apesar de saberem que Lázaro ressuscitaria no último dia, como veremos no texto a seguir, elas sofreriam todas as dores dessa perda irreversível e, talvez, privações, preconceito e exploração por pessoas inescrupulosas.
Veja o diálogo entre Marta e Jesus: “Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar. Disse-lhe Marta: Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia. Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” – João 11:23 ao 25.
Como vimos, ela não entendera a declaração de Cristo. Por essa razão, pensou que o Mestre se referia a fato num futuro distante. No entanto, o Senhor, que é o dono da vida, lhe falava de algo muito mais próximo e real do que ela imaginara. Apenas aguardava o momento oportuno para operar o milagre, já que o tempo dele (Kayrós) é diferente do nosso, o cronológico, o qual é marcado pelo relógio.
No versículo 32, lemos que Maria também foi ao encontro de Jesus. Chegando lá, falou as mesmas palavras que sua irmã. Entretanto houve uma grande diferença em relação à sua atitude para com o Senhor. Veja o que diz o texto: “Tendo, pois, Maria chegado ao lugar onde Jesus estava, e vendo-a, lançou-se/prostrou-se aos pés e disse: Senhor, se tu estiveras aqui, meu irmão não teria morrido”.
Você percebeu a diferença? Enquanto Marta apenas questionou o Mestre, Maria se prostrou diante de Jesus em sinal de humildade, reconhecendo que ele era o Messias. Afinal, um verdadeiro judeu só se prostrava e adorava a Deus. E sua atitude deu ao Senhor a oportunidade de levar a narrativa para outro nível, assumindo o controle total da situação.
Antes de prosseguir, não posso deixar algumas coisas passarem em branco: Ao ver Maria chorar, Jesus comoveu-se em espírito e perturbou-se (v 33); depois, quis saber onde haviam sepultado Lázaro (v 34). Quando falaram “vem e vê, Senhor”, Jesus chorou (34 e 35), demonstrando que também sentira muito a morte daquele homem. Ao vê-lo chorando, os judeus disseram: “Vejam como ele o amava”.
Por outro lado, outros começaram a criticá-lo, dizendo: “Ele, que abriu os olhos do cego, não poderia ter impedido que este homem morresse?” – João 11:37. Vale lembrar que pessoas assim sempre existirão. Contudo Jesus não lhes deu ouvidos, pois sabia muito bem com quem e com o que se preocupar.
Depois disso, ficou novamente comovido e foi até o sepulcro (38). Vendo que tinham posto uma pedra na entrada, disse-lhes: “Tirem a pedra”, disse ele. Disse Marta, irmã do morto: “Senhor, ele já cheira mal, pois já faz quatro dias” – João 11:39. Então o Senhor lhes dá mais uma lição de amor, esperança e fé, ao declarar: “Não lhe falei que, se você cresse, veria a glória de Deus” – João 11:40.
Nos próximos versículos, vemos Jesus agindo como o verdadeiro amigo e também como Deus: Ele ressuscitou Lázaro, sobrepondo-se a tudo aquilo que à luz da Ciência da época e também da de hoje é impossível. Agindo desse jeito, mostrou que é Deus e que tem poder sobre a vida e sobre a morte.
Mas o que desejo enfatizar mesmo é que ter amizade com Jesus é a melhor escolha que alguém pode fazer. Logicamente, como foi dito no começo deste artigo, é importante e necessário ter amigos. Porém, por mais próximos, dedicados e bem-intencionados que eles sejam, passamos por muitas situações nas quais pouco ou nada podem fazer em nosso benefício, uma vez que também são limitados e falíveis.
Por outro lado, quando temos o Senhor como nosso amigo, as adversidades que nos atingem podem ser vencidas. Observe que Jesus não impediu que aquela família passasse pela tempestade física e emocional. Todavia se fez presente, transformando aquilo que poderia ser o fim da alegria daquelas irmãs em algo que resultou em glória para Deus, grande contentamento para elas e motivo para muitos crerem que Ele era de fato o Messias, o Salvador e o Senhor da vida.
Nesse ponto o que disse o profeta Isaías se encontra com aquilo que Cristo fez. Veja: “Quando você atravessar as águas, eu estarei com você; e, quando você atravessar os rios, eles não o encobrirão. Quando você andar através do fogo, você não se queimará; as chamas não o deixarão em brasas” – Isaías 43:2.
Diante disso, preciso dizer que vale a pena ser amigo de Jesus. Entretanto, para que essa amizade seja possível, é preciso que Ele se sinta à vontade com você. Sinta que é amado, que a presença dele é desejada e celebrada e que é respeitado como Deus. Caso aquela família não fosse amiga do Senhor, por certo não teria desfrutado de tão grande bênção. Da mesma forma, acontece com você e comigo hoje.
Também é importante lembrar que se a amizade com uma pessoa de carne e osso como nós já faz tão bem, muito mais fará a amizade com o Senhor. Se até o desenvolvimento cognitivo superior depende da relação com os amigos, imagine se nos dispusermos a nos relacionar com aquele que é o Mestre dos mestres e tanto nos tem a ensinar sobre todas as coisas da vida? E mais: sua presença em nós é mais terapêutica do que qualquer outra pessoa ou coisa.
Ainda preciso mencionar que como Senhor e Salvador ele nos alerta para algo assaz importante. Veja: “Vocês serão meus amigos, se fizerem o que eu lhes ordeno” – João 15:14. Sendo assim, entendemos que se dissermos que somos amigos dele, mas não estivermos dispostos a obedecer aos seus mandamentos, essa amizade não é real; é ilusória. Daí a necessidade de recordar e praticar o que Jesus ensinou àqueles que o seguiam: “ Disse Jesus aos judeus que haviam crido nele: “Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos” – João 8:31.
Por fim, quero dizer que é prazeroso receber um amigo em nossa casa. Então veja o que Jesus declara em Apocalipse 3:20: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo”. Portanto, se nos consideramos amigos dele, precisamos abrir a porta da nossa casa e do nosso coração e convidá-lo para entrar e cear conosco.
Marcos e Márcia Araújo
06/07/2019 at 21:36
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