“Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou.” (Lucas 15:20)
Penso que todos nós, em algum momento da vida, já desejamos que alguém nos desse uma segunda chance. Isso pode estar relacionado à área profissional, relacional (conjugal, familiar, social…) ou espiritual. A razão disso é que nossa imperfeição, limitação, ignorância, arrogância e/ou obstinação muitas vezes nos fazem agir de modo insensato e inconsequente.
Como resultado, provocamos e sofremos prejuízos, dor e mágoas que se tornam verdadeiras nódoas ou manchas em nosso coração e também naqueles cuja vida foi afetada negativamente por nós. Mas será que em situações como essa descrita existe alguma solução ou um escape?
A resposta a essa indagação é o que veremos a seguir, mergulhando humildemente na Parábola do filho pródigo – Lucas 15:11 ao 27- , a qual é rica em preciosas lições para todo aquele em cujo coração saltita o desejo de ser uma pessoa segundo o coração de Deus e, consequentemente, feliz.
Para nos situar melhor, farei um breve resumo da história narrada por Jesus. Depois, com a ajuda do Espírito Santo, analisaremos passo a passo essa narrativa: “Um homem tinha dois filhos. O mais novo pediu que o pai lhe desse a parte da herança que lhe cabia por direito. Após recebê-la, partiu para uma terra longínqua, onde gastou irresponsavelmente todo o dinheiro. Quando percebeu a bobagem que fizera, propôs em seu coração retornar para a casa de seu pai, mesmo que não fosse mais aceito como filho. Para ele, se fosse aceito como um empregado, já estava de bom tamanho. E assim ele fez”.
No versículo 12, somos informados de que o filho mais novo pediu a parte da herança que lhe cabia. Para um judeu, agir dessa forma é uma terrível desonra ao pai. Mesmo em nossa cultura, tal atitude soa, no mínimo, como uma insensatez do filho. Nesse caso, é ainda pior porque o jovem não a queria para fazer um sábio investimento. Ao contrário, ele queria curtir a vida numa boa, sem a interferência de seu genitor.
No entanto, mais grave que pedir a herança antecipadamente, era o que estava por trás dessa atitude. Eram os motivos que o levaram a fazê-lo. Agindo assim, ele demonstrou claramente sua insatisfação com a vida que o pai lhe dava. Por certo, já se considerava suficientemente capaz para agir nas mais diversas situações; inclusive nas desconhecidas e perigosas que viveria mundo afora.
Suas ações revelaram que ele não percebia que ali estava protegido, tinha suas necessidades físicas, emocionais e espirituais supridas. Enfim, era amado e estava em segurança. Lá fora, ao contrário, ficaria na mira de pessoas mal intencionadas e inescrupulosas, cujo objetivo principal seria aproveitar-se dele.
Quando olhamos para nós mesmos com humildade, vemos que a história desse jovem é a nossa também. Quantas vezes, espiritualmente falando, agimos como ele! O sentimento de autossuficiência e o nariz empinado nos levam a supor que a Casa do Pai não mais está satisfazendo nossas necessidades. A comida não é boa. Não existe a tão desejada liberdade. Não somos amados como supomos merecer. Não temos necessidade da presença, provisão e proteção do Pai. Evidentemente, tudo isso segundo nossa embaçada e comprometida visão espiritual. Por isso, tomamos a decisão pegar nossa viola e ir cantar em outro lugar, como fez o filho pródigo, ou seja, esbanjador – Lucas 15: 13.
Antes de prosseguir analisando o texto, quero voltar ao versículo 12, pois há algo que considero muito importante. Veja: “Assim, ele {o pai} repartiu sua propriedade entre eles”. Aqui não existe nenhum registro de que o pai tentou convencê-lo a ficar, mostrando-lhe não ser a decisão mais acertada. Se ele tinha autoridade para impor sua vontade, por que agiu dessa forma? Será que de fato não o amava? Acaso queria ficar apenas com o mais velho?
A resposta é simples: Ele respeitava o livre-arbítrio do filho, isto é, sua possibilidade de decidir ou escolher em função do próprio querer. Não há duvida de que o amava. Mas amar também significa respeitar as decisões de outrem. É óbvio que já sabia que o rapaz quebraria a cara. No entanto, não desejava ter a presença dele apenas por obrigação, vendo-o revoltado, insatisfeito ou triste. Era preciso que o filho decidisse estar ali por amor. Aliás, quem não quer que seja assim?
Já que esse pai representa Deus, é assim que Ele quer que nos relacionemos com ele: por reconhecê-lo como Senhor e por amá-lo e respeitá-lo em consequência disso. Certa feita, alguém declarou: “Amo a liberdade, por isso deixo livres as coisas que amo. Se elas voltarem é porque as conquistei. Se não voltarem é porque nunca as possuí”. Com o Senhor não é diferente. Ele não quer escravos amarrados no tronco. Quer filhos livres e felizes, correndo e brincando ao seu redor.
Ainda no versículo 13, lemos que poucos dias depois, o filho juntou todas as suas coisas e partiu para uma terra distante. Lá, desperdiçou toda a sua herança, vivendo dissolutamente, ou seja, descontroladamente, desregradamente, sem critérios. Também agimos desse modo em muitas situações da vida. E não me refiro somente à área financeira.
Na maior parte das vezes, o dinheiro é o que menos importa. Faço referência a gastar tempo, oportunidades e talentos com coisas fúteis e passageiras, as quais, em longo prazo, trarão prejuízos, frustrações, decepções, sofrimento e, indiscutivelmente, arrependimento (talvez tardio) e infelicidade.
Por certo, isso já aconteceu com você ou com alguém conhecido. Um exemplo disso são as drogas. Quantas pessoas de todas as idades, mas especialmente os mais jovens, estão gastando e desperdiçando tudo o que possuem de melhor com essas malditas. Alguns ainda conseguem deixar esse mundo cruel. Outros, porém, destroem a si mesmos e aqueles que os amam de verdade, sobretudo seus pais. Lamentável!
Chegando aos versículos 14, 15 e 16, vemos que, havendo desperdiçado todo seu patrimônio, houve grande fome naquela terra e ele começou a padecer necessidades (Provavelmente, não apenas física, mas também afetiva e espiritual). Então o jovem saiu à procura de um trabalho e o único que conseguiu foi como cuidador de porcos. E o pior: desejava comer a comida desses animais, contudo nem isso lhe era dado. Em outras palavras: naquele momento, seu valor era menor que um porco! Que cena deprimente!
Para nós ocidentais, cuidar de porcos se não é uma boa “profissão”, também não é algo humilhante. Entretanto, para os judeus eram imundos esses animais. Por isso, eles não podiam criá-los, tocá-los, conviver com eles e muito menos comê-los. Desse modo, entendemos que o moço chegara ao fundo do poço, ou melhor, a uma situação em extremo degradante e humilhante. Sem contar que estava ferindo princípios espirituais seriíssimos, o que geraria consequências negativas graves.
Por acaso não ocorre algo semelhante com muitos em nossa sociedade atual? Quem sabe já aconteceu até conosco mesmo. Determinadas decisões tomadas precipitadamente fizeram com que chegássemos a uma situação terrivelmente vexatória, constrangedora e à quebra de princípios morais e espirituais importantes. E os prejuízos foram ou ainda são grandes. Já pensou nisso?
Mas sempre há uma luz no fim do túnel. E a grande virada na vida dele começou no versículo 17. Aqui o vemos cair em si e perceber a bobagem que fizera. Veja sua declaração: “Quantos jornaleiros/trabalhadores de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!”. Assim, passou a ser escrita Uma nova história para a vida dele. Conosco não é diferente. A grande virada de mesa se dá quando tomamos consciência de que pisamos na bola com alguém ou com Deus. Não é possível haver uma mudança para melhor nem escrever outra história, agora de sucesso e felicidade, sem antes reconhecer o erro.
No entanto, não para por aí. Não basta apenas cair em si e reconhecer o erro. Como veremos nos versículos 18 e 19, é preciso ter uma atitude correta diante dele e tomar, humildemente, a decisão de voltar para a casa do Pai e assumir que estava errado. Por compreender tal verdade, o moço declarou: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros (trabalhadores, empregados)”.
Pensa que foi fácil para ele tomar essa decisão? Entendo que não. Ao contrário, deve ter sido algo muito difícil. Afinal, ser humilde para reconhecer o erro não é fácil para ninguém. Assumir que fracassou, muito menos ainda. Por certo, passou por grandes conflitos interiores. Porém não se deixou vencer pelo orgulho. Com você e comigo deve acontecer o mesmo. Isso significa vencer a si mesmo, a fim de poder repaginar a vida.
Outra lição preciosa presente aqui é sua disposição para recomeçar por baixo. Também reconhecia não mais ser digno de ser chamado de filho, pois se recusara a ficar sob a autoridade paterna. Por esse motivo, ele estava disposto a acatar uma punição do pai, caso houvesse. Daí dizer “faze-me como um dos teus jornaleiros”. Não é fácil abrir mão de coisas importantes. Contudo, às vezes, é necessário perdê-las para ganhar outras melhores ainda. Pense nisso. Não se apegue ao seu orgulho, para não perder as bênçãos de Deus.
No versículo 20, começa a parte mais difícil: Levantar-se e ir. Planejar é até fácil. Já colocar o plano em ação… Mas ele venceu a si mesmo. Era o começo de uma nova história. Veja o que diz o texto: “Quando ainda estava longe, o pai o avistou e se moveu de íntima compaixão. Então correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou”. Dá a impressão que aquele homem sempre estava olhando a estrada com a viva esperança de ver o pródigo filho de volta para casa. Deus sempre está.
Que emocionante cena! Mesmo estando distante, foi reconhecido pelo pai. Porém, mais do que isso, o velho foi ao seu encontro movido de íntima compaixão, ou seja, sentindo o mesmo que seu filho sentia. Lembrando que esse pai representa Deus, significa que Ele sempre está esperando que voltemos para casa. A sua casa, onde existem pão e água da vida, conforto, proteção, orientação, provisão, crescimento e correção, caso seja preciso.
Para mim, tudo nessa parábola é maravilhoso. No entanto, há alguns registros aqui que são fantásticos. O versículo 21 é um deles. Leia: “E o filho disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho”. O moço assume reconhecer que havia pisado seriamente na bola. Ele confessa com a própria boca. É lógico que aquele homem já sabia disso. Também tinha consciência de que se o pródigo voltara era porque estava arrependido. Contudo havia necessidade de uma confissão verbalizada. O mesmo se dá conosco. Precisamos confessar com nossos lábios, não apenas com atitudes, que agimos de modo insensato, pois isso vai ser como uma faxina em nosso interior. Vai expurgar todo o lixo acumulado em nosso coração.
Entretanto o que mais me cativa, impressiona e emociona está nos versículos 22, 23 e 24. Nesse trecho, vemos que o pai nem dá atenção à fala do filho. Não quer discutir o passado. E não é por falta de educação. Ele entendia que, se o moço voltara para o Lar, era porque estava arrependido. Não ignorava o erro do jovem, mas, para ele, mais importante que a pisada na bola era o próprio filho. Conosco também é assim. Se voltarmos para o Lar, demonstraremos para Deus arrependimento e humildade. Logo, seremos perdoados, aceitos e acolhidos.
Entenda que o pai tinha todo o direito de jogar na cara do moço as bobagens que havia feito e de aplicar o castigo adequado para a situação. Entretanto, não o fez. Deus também pode fazer isso. Todavia, prefere discutir presente e o futuro. Para aquele homem, era tempo de comemorar o retorno do rapaz. Por isso, deu algumas ordens específicas a seus servos.
A primeira: “Tragam depressa a melhor roupa e vistam-no” – v 22. Provavelmente, a vestimenta do filho estava suja, rasgada e fedida. Em sentido figurado, ele estava, moral e espiritualmente falando, sujo e indigno. Então precisava reconstruir sua dignidade, pois agora ele estava na presença do pai. Em relação a nós diante de Deus, acontece o mesmo. Ele nos quer fazer dignos, porque há coisas que fazemos que nos tornam impuros e carentes de novas roupas, para podermos estar na presença Dele.
A segunda: “Ponde-lhe um anel na mão” – v 22. Anel é símbolo de autoridade. Os reis, por exemplo, selavam seus decretos com um anel e eles se tornavam irrevogáveis. Então, ao fazer isso, o pai estava dizendo que aquele moço era, irrevogavelmente, seu legítimo filho. Mas, além disso, há outro sentido importante: o anel simboliza o Espírito Santo com o qual somos selados quando aceitamos a Cristo como nosso Senhor e Salvador pessoal – Efésios 1:13 e 14. Portanto, esse selo significa que pertencemos à família de Deus e que somos seus legítimos filhos.
A terceira: “E alparcas nos pés” – v 22. Andar descalço em um piso comum geralmente não causa danos aos pés. Mesmo assim, ainda corremos o risco de pisar em alguma coisa e provocar um ferimento. Porém, andar descalço pisando pedras, espinhos, gravetos e correndo o risco de pisar numa serpente é algo terrível. Penso que os pés do moço estavam muito sujos e feridos. Talvez, até sangrando. Daí a necessidade de sandálias novas, para andar em segurança e com firmeza.
Muitas vezes, também estamos assim quando retornamos para a Casa do Pai. Chegamos feridos, sangrando. Isso porque os prazeres do mundo são passageiros e, não raramente, terminam em sofrimento. Outras vezes, porque as adversidades da vida nos machucam profundamente. Mas há uma boníssima notícia para você: Deus tem novas sandálias para seus pés! Tem proteção!
A quarta está nos versículos 23 e 24. Neles, vemos que aquele pai queria celebrar a volta do filho com festa. Para isso, ordenou que matassem o bezerro cevado, o qual era reservado para ocasiões especiais. Ao fazer isso, demonstrava claramente sua alegria pelo retorno do filho e que o rapaz era especial para ele. Com o Senhor também é assim. Ele se alegra quando um filho seu decide voltar para casa. Jesus disse que existe festa no céu por um pecador que se arrepende.
A quinta: o pai apresenta o motivo pelo qual está tão feliz: “… meu filho estava morto e reviveu; tinha se perdido e foi achado” v 24. Que lindo! Como aquele filho, nós também estamos perdidos e mortos ao nos distanciarmos dele. Não fisicamente, mas espiritualmente falando. E, quando voltamos para Sua casa, ressuscitamos e nos encontramos. Por isso, alegramos o coração do Pai.
Agora, gostaria de lhe dizer o seguinte: todos nós, em algum momento, somos pródigos e precisamos, urgentemente, voltar para a Casa do Pai, pois lá há pão sobrando. Não precisamos perecer de fome. Não precisamos comer a comida dos porcos, ou seja, coisas impuras e impróprias para uma pessoa digna e honrada. Em Isaías 1:19 diz: “Se vocês quiserem, e estiverem dispostos a obedecer, comerão os melhores frutos desta terra”. Deus tem o melhor para nos dar, mas é necessário que façamos a nossa parte.
Além disso, sinto em meu coração a necessidade de lhe falar que eu e você somos a razão principal da vinda, da crucificação e da morte de Jesus naquela sangrenta cruz. Porém não para que se sinta constrangido com isso. Ao contrário, é para que se sinta privilegiado, amado por Deus e o quanto é importante para ele – João 3:16; 17:23.
Também sinto que preciso lhe dizer o quanto é importante convidar Jesus para vir morar definitivamente em seu coração, tornando-o seu Senhor e Salvador pessoal, pois, como está escrito em João 1: 11 ao 13, “Jesus veio para os que eram seus (o povo judeu), mas os seus não o receberam. Entretanto, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de se serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”.
Para finalizar, quero dizer que não sei qual é sua situação física, emocional, sentimental, conjugal, social, financeira ou espiritual. Mas de uma coisa estou bem certo: o Senhor conhece sua vida e suas necessidades e, além de conhecê-las, ele pode socorrê-lo. Contudo, por respeitar seu livre-arbítrio, Ele espera que você, como o filho que deixou de ser pródigo, entenda que é amado e busque sua ajuda. Ouça com o coração a voz de Jesus a lhe dizer: “Venham a mim, todos vocês que estão cansados e oprimidos, e eu os aliviarei. Tomem sobre vocês o meu jugo, e aprendam de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrarão descanso para a sua alma, porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” – Mateus 11: 28 ao 30. Há uma segunda chance para você também! Volte para o verdadeiro e aconchegante Lar! Volte para os braços do Pai!