
Quem nunca se sentiu como se estivesse no meio de uma tempestade em alto-mar ou no olho de um furacão?
Penso que a maioria de nós já se sentiu assim, talvez em mais de uma ocasião. Alguns certamente já estiveram nesse tipo de situação mais vezes do que poderia imaginar.
No entanto, independentemente de ter sido uma única vez ou várias, o sentimento que envolve o indivíduo quase sempre é o mesmo: impotência. Todavia, em muitas pessoas, também gera desespero, revolta contra pessoas e até contra Deus.
Se olharmos apenas sob o ponto de vista humano, consideraremos algo mais do que normal, comum e compreensível tal reação, sentimentos ou comportamentos. Contudo, o cristão não deve viver baseado no que pensa e vê ou nas circunstâncias que o envolvem, mas pela fé nas promessas imutáveis do Deus que não muda, como lemos em Malaquias 3:6 e em Mateus 24:35.
Quando olhamos para 2 Crônicas 20, vemos uma história que nos ajuda entender como precisamos e devemos agir em tempo de crise. Contudo, para entendermos melhor essa história, é preciso lembrar que no capítulo anterior o cronista faz relato que será relevante para entender as ações do rei Josafá: “Boas coisas, contudo, se acharam em ti, porque tiraste os bosques da terra e preparaste o coração, para buscar a Deus” – 2 Crônicas 19:3.
Note que esse homem, diferentemente de outros reis que o antecederam, procurava fazer aquilo que era reto aos olhos de Deus. E isso vai ser o grande diferencial dele quando se viu no meio da crise, a qual poderia ter determinado seu fim e a provável destruição de seu povo.
Segundo o relato bíblico, os filhos de Moabe e de Amom se uniram para lutar contra Josafá, e era uma grande multidão. Então, algumas pessoas foram avisar o rei sobre a decisão tomada por esses povos – 2 Crônicas 20:1-2.
Como diz o versículo 3, ao receber essa notícia, Josafá temeu muito, pois sentiu que a situação era muito complicada e grave. Veja: “Então, Josafá temeu e pôs-se a buscar o Senhor; e apregoou jejum em todo o Judá” – 2 Crônicas 20:3.
À primeira vista, até podemos pensar que o rei era um sujeito emocionalmente fraco e, portanto, inapto para o posto que ocupava. No entanto, uma análise mais profunda da situação nos leva a concluir que, na realidade, ele foi muito sensato. Afinal, acaso adiantaria alguma coisa ele supor que conseguiria encarar e vencer aquela guerra se estava em desvantagem, colocando, desse modo, sua vida e seu povo em risco?
A sequência dos fatos nos revela que Josafá agiu com muita sabedoria. Observe que ele se pôs a buscar ao Senhor e apregoou um jejum a todos os israelitas. Interessante isso. Sua sabedoria o levou à pessoa certa, Deus, o qual poderia mudar o resultado daquela batalha que, humanamente falando, já estava perdida.
Mas há outro ponto importante que almejo destacar: ele decidiu não fazer isso sozinho. Por esse motivo, conclamou toda a nação para buscarem juntos a face do Senhor. Isso me leva a entender que quando somos envolvidos por uma crise não podemos nem devemos agir sem a direção de Deus.
Outra lição é que devemos envolver aqueles que fazem parte do nosso relacionamento na busca ao Senhor. Muitos, quando estão sendo açoitados por um vendaval, por vergonha ou por orgulho, não compartilham seus problemas com outros, mesmo sendo pessoas idôneas.
Outros há que não dividem a carga nem mesmo com o cônjuge. Desse modo, desgastam-se ou sucumbem sufocados pela crise. Mas o pior ainda é que, muitas vezes, mesmo tentando poupar seus entes queridos, levam-nos para o abismo também. E o mais grave: eles nem tiveram a chance de lutar para evitar a tragédia.
Logicamente é necessário fazer um registro: não podemos e não devemos compartilhar nossos problemas com quaisquer pessoas. Antes, esse compartilhamento deve ser feito com pessoas maduras, idôneas, sensatas, equilibradas e tementes a Deus. Inclusive, sei que muitos não podem contar com seu cônjuge, o qual pode fazer a situação piorar, por causa da sua imaturidade ou falta de responsabilidade mesmo.
Por outro lado, se o cônjuge, a família e até mesmo outras pessoas do nosso convívio são idôneas o suficiente, é certo que a junção das forças será determinante para superar a adversidade pela qual fomos açoitados.
Veja o que diz o versículo 4: “E Judá se ajuntou, para pedir socorro ao Senhor; também de todas as cidades de Judá vieram para buscarem o Senhor”. Aqui, vemos que o povo atendeu à convocação do rei. Isso nos diz muito sobre como agir. Especialmente quando há uma crise rondando nossa casa ou nosso povo precisamos unir nossas forças para buscar em Deus o livramento.
No versículo 5, vemos Josafá, como líder, se colocando em pé e se dirigindo ao Senhor em oração. Tal postura nos leva a entender que quem está em posição de liderança, seja ele um governante, pastor ou o responsável pela família deve ser o exemplo na busca pela face de Deus. Desse modo, os demais se sentirão motivados e fortalecidos para entrarem na batalha também.
Do versículo 6 ao 11, notamos que o rei começa “relembrar” Deus de quem ele é e de promessas importantes que fizera ao povo de Israel. Além disso, apresentou ao Senhor o problema pelo qual estavam passando.
Dessa parte da oração, podemos extrair diversos ensinamentos. O primeiro é que Josafá reconhece quem é Deus, a onipotência do Senhor, adora-o e o louva por sua grandeza, diante da qual ninguém pode resistir. Isso me faz entender que ao nos dirigirmos ao Altíssimo precisamos estar certos sobre quem ele é, do que pode fazer por nós e com humildade.
Infelizmente, muitas vezes apequenamos Deus. Uma vez que somos pequenos e fracos, mesmo que inconscientemente atribuímos essa pequenez e fraqueza ao Eterno. Todavia, Ele continua a nos dizer: “Eis que eu sou o Senhor, o Deus de toda a humanidade. Será que existe algo demasiadamente difícil para mim?” – Jeremias 32:27; Gênesis 18:14.
Outro ensinamento é que, mesmo sendo onisciente, ou seja, sabedor de todas as coisas, o Senhor quer que verbalizemos ou exteriorizemos aquilo que está em nosso coração. Afinal, orar é conversar com Deus. É abrir completamente o coração para ele. É fazer como gostamos que nossos filhos façam quando estão com alguma necessidade ou para compartilhar algo bom, que lhe fizeram felizes.
Também aprendemos que precisamos apresentar detalhada e claramente qual é o problema. Você deve ter percebido que o rei narra de forma minuciosa o que está acontecendo. Logicamente, o Senhor conhecia cada detalhe. Contudo, como já foi dito, ele quer que comuniquemos com clareza quais são nossas necessidades.
Lembra-se do cego Bartimeu? Quando ele soube que era Jesus quem passava por ali, começou a clamar: “Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim! E os que iam passando repreendiam-no para que se calasse; mas ele clamava ainda mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” – Lucas 18:37-39.
A seguir, vemos que o Senhor parou perto dele e lhe perguntou: “Que queres que te faça?” – Lucas 18:41. Ora, parece óbvio que aquele homem queria enxergar, não é? No entanto, o Mestre queria ouvir da boca de Bartimeu qual era o desejo dele. Sem contar que ele podia querer apenas uma esmola. Então, Jesus desejava saber claramente. Além disso, o Senhor almejava relacionamento pessoal.
Voltando à história de Josafá, há algumas coisas muito importantes que gostaria de destacar. Veja o que ele diz no versículo 12: “Ah! Deus nosso, porventura, não os julgarás? Porque em nós não há força perante esta grande multidão que vem contra nós, e não sabemos nós o que faremos; porém os nossos olhos estão postos em ti” – 2 Crônicas 20:12.
Primeiro ele reconhece que o Altíssimo é o Deus dele e do povo. Então, aprendo que não dá para nos dirigirmos ao Eterno para lhe pedir algo se não o reconhecermos como Deus. E o reconhecemos de fato quando estamos dispostos a obedecer aos seus mandamentos, pois “é melhor obedecer do que sacrificar – diz o Senhor” – 1 Samuel 15:22.
Em segundo lugar, diante do caos ou da adversidade, é necessário reconhecermos e admitirmos nossa pequenez, fraqueza, impotência e incapacidade de tomar a decisão certa: “… e não sabemos nós o que faremos…”. Isso porque se permitirmos que nosso orgulho impeça de nos humilharmos perante o Senhor, corremos o risco de sofrermos uma grande derrota para o inimigo ou para um problema grave que nos acometeu.
Em terceiro lugar, vem a parte mais relevante: “… porém os nossos olhos estão postos em ti”. Quando entra um “porém”, significa que haverá uma mudança de condição, situação ou ideia. E é justamente aqui que está o segredo da vitória. Até esse momento, parecia que a derrota era certa. Entretanto, não é isso que vai acontecer.
A partir do momento em que declara “… porém os nossos olhos estão postos em ti…”, Josafá demonstra que está entregando o problema nas mãos de Deus, e isso junto com o povo. Veja: “E todo o Judá estava em pé perante o Senhor, como também as suas crianças, as suas mulheres e os seus filhos” – 2 Crônicas 20:13.
Mais uma vez, quero destacar a importância do envolvimento de todas as pessoas. Em Mateus 18:18 ao 20, vemos Jesus declarando: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.
Apesar de o contexto da declaração de Cristo ser outro, o princípio é o mesmo, ou seja, a unidade de propósito e atitude recebe um olhar responsivo e misericordioso do Pai.
Nesse episódio, a consequência da oração do rei, com a unidade de coração do povo, foi o início da virada. Do versículo 14 ao 17, vemos a resposta de Deus. Dentre todas as coisas que o Senhor falou, quero destacar este trecho: “Nesta peleja, não tereis de pelejar; parai, estai em pé e vede a salvação do Senhor para convosco, ó Judá e Jerusalém; não temais, nem vos assusteis; amanhã, saí-lhes ao encontro, porque o Senhor será convosco”.
Que resposta linda do Senhor! E muito interessante! Em tantas outras ocasiões Deus determinou que o povo agisse fisicamente, ou melhor, entrasse na batalha corpo a corpo. Contudo, nessa ocasião, ele deu uma ordem bem diferente. Qual a razão disso? Não sei exatamente. Porém, posso supor que foi por causa da atitude humilde do rei e do povo diante da adversidade.
Outro detalhe que me chamou a atenção é que o Altíssimo disse para eles não temerem nem se assustarem, pois veriam a salvação que lhes proporcionaria. Contudo, havia algo que os israelitas deveriam fazer: sair ao encontro do inimigo.
Parece contraditório ou estranho. Se eles não iam lutar, por que ir em direção ao exército inimigo? O melhor não seria ficar bem longe, só assistindo de camarote?
Aos olhos do Senhor, não. Ele queria que seu povo o visse em ação novamente, como já fizera tantas outras vezes. Assim, até mesmo os pequeninos, que nunca tinham visto o trabalhar do Deus Todo-Poderoso de quem ouviam falar, puderam testemunhar a grandeza e o cuidado do Senhor.
Outro registro importante a fazer é que no versículo 20 vemos o rei novamente assumindo seu papel de líder e encorajador, servindo de exemplo para todos nós que exercemos liderança, seja em casa ou fora. Veja: “E, pela manhã cedo, se levantaram e saíram ao deserto de Tecoa; e, saindo eles, pôs-se em pé Josafá e disse: Ouvi-me, ó Judá e vós, moradores de Jerusalém: Crede no Senhor, vosso Deus, e estareis seguros; crede nos seus profetas e prosperareis”.
Também devo destacar o que ele fala para seu povo: “Crede no Senhor, vosso Deus, e estareis seguros; crede nos seus profetas e prosperareis”. Note que ele não toma para si a glória, mas a tributa ao Eterno. Além disso, o rei instrui os israelitas a crer nos profetas, pois, quando um profeta é verdadeiro e verdadeiramente enviado pelo Senhor, levará as pessoas ao êxito.
O que vem a seguir na história também é muito instrutivo. O versículo 21 relata o rei ordenando que os cantores saiam à frente do povo louvando a Deus. E, na sequência, vemos que assim que começaram a louvar, o Senhor entrou em ação e lhes deu uma gigantesca vitória.
Como consequência do agir do Senhor, aconteceu o que você verá a seguir: “Veio o temor de Deus sobre todos os reinos daquelas terras, ouvindo eles que o Senhor havia pelejado contra os inimigos de Israel. E o reino de Josafá ficou quieto e o seu Deus lhe deu repouso em redor” – 2 Crônicas 20:29 e 30.
Como você viu, aconteceram duas coisas importantes: primeiro, os reinos circunvizinhos ficaram temerosos ao verem que o Senhor havia lutado pelos Israelitas e os inimigos deixaram de importuná-los; segundo, Deus deu paz e repouso a eles. Desse modo, puderam continuar seus afazeres com tranquilidade.
Conosco também pode acontecer algo semelhante. Em muitas ocasiões nos vemos cercados por muitos “inimigos”, e não estou me referindo a pessoas necessariamente, mas a problemas humanamente insolúveis ou que exigem muito esforço e um gasto enorme de tempo e energia para resolvê-los. Mas não precisamos lutar sozinhos.
Se verdadeiramente temos crido em Deus como nos ensinam as Sagradas Escrituras, podemos e devemos recorrer a ele pedindo sabedoria para lutar ou, dependendo da gravidade da situação, suplicando que ele lute conosco. E certamente encontraremos o socorro necessário, como Josafá e os israelitas encontraram.
Portanto, incentivo você a colocar em prática a lições aprendidas com essa história do povo judeu, inclusive sobre louvar ao Senhor mesmo em meio à tempestade, pois Deus continua sendo o mesmo Deus, o qual é o nosso ajudador – Deuteronômio 33:26; Salmo 33:20. E, para concluir, quero relembrar o que está escrito em 2 Crônicas 20b:20: “Crede no Senhor, vosso Deus, e estareis seguros; crede nos seus profetas e prosperareis”.
Sugestão de música: Deus cuida de mim – Eli Soares








